15 de setembro de 2008

Ensaio para Enxergar



Após a cena final percebo que apenas metade da sala se levantara
. Quando as luzes se acendem olho para o meu lado direito na distância de umas 6 poltronas,, um rapaz com seus vinte e poucos anos com os braços apoiados na poltrona da frente olha para o infinito, onde deveria estar seus pensamentos. Assim como eu, que demorei alguns minutos para soltar uma palavra sobre qualquer coisa para minha namorada que estava visivelmente emocionada. Meu irmão, que assistiu o filme em outro cinema, me disse que a maioria das pessoas esperou os créditos terminarem para se retirarem da sala, coisa que faço em quase todos os filmes e sei que pouca gente tem esse costume.

"Ensaio sobre a cegueira" não é um filme que agradará a todos, mas, a poética impactante não permite que ninguém saia do cinema da mesma maneira que entrou. Meirelles, orgulho nacional, novamente mostra que é um dos melhores diretores da atualidade, ao lado de Tarantino,
Guillermo del Toro (Labirinto do Fauno), Guy Ritchie (Snatch - Porcos e Diamantes), entre outros. Com maestria ele traz para as telas a adaptação quase perfeita do livro homônimo de José Saramago, ganhador do prêmio Nobel de literatura.

Na metáfora criada por Saramago, uma estranha epidemia de cegueira branca toma conta de um país. A fotografia de
César Charlone traz esse branco para a trama de uma forma impressionante. Os tons pálidos das cenas enriquecem a película, e ajudam a ambientar a agonia que a história transmite. Ainda tecnicamente falando, o som está em todos os detalhes numa ligação direta com os cegos que devido tantas dificuldades, acabam apurando outros sentindos. A riqueza de sons em várias camadas e muito bem distribuídos, intensifica as sensações para o espectador. A emoção do filme é tão forte que a trilha passa suave e quase despercebida, pois a própria história já é suficientemente intensa e tocante.

Os aplausos para Meirelles continuam pelas dificuldades que a adaptação para outra linguagem têm. Após o final você saberia dizer qual o nome da personagem de Juliane Moore? Ou do médico interpretado por Mark Buffalo? A mulher de óculos (Alice Braga), o homem com o tapa olho (Dany Glover) ou o líder dos cegos da Ala 3 (Gael Garcia Bernal)? Também tenho certeza que ninguém lembrará, pois Saramago não dá nome ao país, nem a cidade e a nenhum personagem.


Juliane Moore, que faz o papel da mulher do médico, a única que não fica cega, é o pivô principal de toda a trama. Como em toda epidemia, os primeiros infectados são isolados num antigo sanatório, divido em alas. O medo de contágio transforma o isolamento em uma campo de concentração de cegos, onde o seres humanos acabam por vivenciar o limite da civilidade. Imagine pessoas que acabaram de ficar cegas, soltas a deriva num lugar desconhecido sem ninguém que enxergue para ajudar, pois bem, Saramago imaginou e Meirelles mostrou a que níveis o ser humano pode descer.


Mas, todo o incômodo dos fatos lamentáveis que ocorrem, - e confesso que na cena mais forte do filme me senti emocionado com um belo nó na garganta -, não dimensiona a metáfora que "Ensaio" possui e por isso, merece várias análises. Impressiona a riqueza interpretativa e as várias leituras possíveis que os fatos mostrados podem ter. Todos os personagens exercem funções distintas e por isso podem ser analisados separadamente.


"Ensaio" pode até não levar nenhum oscar, ou mesmo ser um fracasso de público, mas, a intensidade dessa obra para o espectador mais atento sempre receberá os status de direito. E na seqüência final, onde novamente fiquei emocionado, a assinatura escrita a quatro mãos por Meirelles e Saramago mostra que vivemos cegos para a vida, e que a epidemia branca é muito mais real do que imaginamos.


Gostinho especial
O tempero para os brasileiros e principalmente para os paulistanos é ver que a cidade de São Paulo foi utilizada como cenário, e pela primeira vez incorporou um "personagem" em um filme com alcance mundial, apesar de não representar São Paulo, mas sim a cidade imaginada por Saramago e criada por Meirelles. Já vimos Nova York, Los Angeles, Paris, Londres e agora a nossa cidade mostra que pode ser um palco cinematográfico digno de grandes produções.

J. Barish

A declaração emocionada de Saramago para Fernando Meirelles,
nem precisa de comentários!








11 de setembro de 2008

Uma Promessa Fora do Tom


A produção do cinema nacional está crescendo anualmente, e isso é refletido no aumento da infra-estrutura e no aprimoramento técnico, além de uma diversidade de títulos que abrangem tantos filmes ótimos e de qualidade, que acabam até ganhando grandes prêmios internacionais, quanto filmes pobres tecnicamente ou excessivamente comerciais.

"Os Desafinados" do diretor Walter Lima Jr. é o caso de aplausos em questões técnicas como fotografia e figurino, mas uma enorme decepção quando observamos a sinopse e deparamos com um filme que soa "fora do tom" o tempo inteiro e tem um "cheiro" excessivamente "global". Nada mais perfeito do que lançar um filme que possui a Bossa Nova como tema, quando esse ritmo genuinamente brasileiro, completa 50 anos.

Quatro amigos músicos, Rodrigo Santoro (Joaquim), Ângelo Paes Leme (Davi), André Moraes (PC) e Jair Oliveira (Geraldo) juntam-se ao amigo Selton Mello (Dico), cineasta , e vão tentar o sucesso tocando Bossa Nova em Nova York. Até aí a história promete muita música de qualidade e uma história envolvente, principalmente pela entrada de Cláudia Abreu (Glória) como um suposta voz para esse grupo. Além disso, ela forma um triângulo amoroso com Joaquim e Alessandra Negrini (Luíza), esta última por sinal, nas poucas aparições, demonstra muita competência e destoa do resto da produção.

Usei a palavra promete, porque o filme fica apenas na promessa e se arrasta durante cansativos 131 minutos sem que um solo empolgue o pobre espectador, e pior, Cláudia Abreu decepciona, sua personagem deveria fazer a história tremer, mas, o que treme é a paciência do espectador a cada cena que sempre fica na promessa mas nada acontece. E o fato que chega a irritar em sua personagem é a dublagem feita nas cenas onde ela canta. A voz da cantora/dubladora é totalmente diferente da atriz, além de não ter nada de especial.

Um bom exemplo das "promessas" não cumpridas é a cena em que um dos personagens chega em casa e surpreendentemente não há ninguém, ele sai novamente com "a pulga atrás na orelha",
e mais tarde, quando encontra a pessoa que deveria estar em casa, a mesma explica sua ausência com algo tão simples que parece absurdo (isso deixa no ar a promessa de um pequeno mistério, que infelizmente não existe), o que demonstra que no mínimo 10 arrastados e desnecessários minutos do filme poderiam ter sido poupados.

A maior promessa da trama do filme, infelizmente tenho que contar por ser um absurdo, é o fato de no início ser anunciado que o grupo teria feito sucesso no Brasil na sua época, e incrivelmente o único momento que esse sucesso aparece, com direito a fãs batendo no vidro do carro, é em um show na Argentina!?

Além de desafinado, o filme tem inúmeras cenas que se prolongam, fora do tempo de corte
e é cansativo como esperar um show de João Gilberto. As raras sequências que empolgam, parte pelo bom humor, ou pela competência do elenco, infelizmente não conseguem salvar o roteiro fraco, a montagem arrastada e o desfecho, que acaba sendo a única promessa, infelizmente muito previsível, totalmente cumprida.

por J. Barish

O trailer traz praticamente todas as partes que empolgam no filme,
assista-o e espere o filme sair na Globo pra ver. Sai mais barato.




14 de agosto de 2008

Anarquia!


"Batman - O Cavaleiro das Trevas" beira a perfeição da adaptação de um personagem de história em quadrinhos para o cinema. O filme namora com a realidade, mas não deixa escapar muitos fatos impossíveis que aconteceriam apenas em páginas de quadrinhos ou telas de cinema (e isso que tempera essa fantasia).

O grande "ás" na manga do diretor Christopher Nolan neste filme foi embarcar nas aventuras psicológicas que existem nos quadrinhos do personagem Batman e transportá-las para a telona. O filme coloca pelo menos um nariz de vantagem comparado as outras adaptações (que sacrilégico fazer comparações), pelo fato do filme se sustentar na trama e não simplesmente na ação, ou mesmo em um desfecho "incrível". A história surpreende em vários momentos, e a anarquia dos dois personagens principais (ponto forte dos quadrinhos), está presente quase que em todas as duas horas e meia de filme. Anarquia de alguém que quer lutar pelo que é justo, fora do sistema, e de outro que quer ridicularizar tanto o sistema, quanto o cara de morcego.

Falando em Coringa, Heath Ledger, em atuação assustadoramente impactante, vence e convence nessa história, não só demonstra a insanidade como também rouba a cena por seus trejeitos e realismo (como seria uma mente genial e perturbada?). Ledger responde em sua derradeira atuação (infelizmente muito se diz que ele mesmo não aguentou o tranco psicológico que foi "encarnar" o Coringa).

Novamente se faz necessária uma comparação cruel, Christian Bale (Bruce Wayne/Batman), ficou minúsculo diante da interpretação de Ledger. Um ponto que poderia defende-lo é que o Coringa é mais caricato, por isso mais fácil de criá-lo, mas Wayne também é um personagem em conflito, alguém que vive com duas personalidades distintas, que vê o suposto "amor de sua vida" nos braços de outro homem, que abdica desse amor para lutar contra o crime, ao mesmo tempo que é um milionário com responsabilidades sociais e empresariais (ele tem uma imagem de playboy a zelar), tudo isso pouco se vê nas expressões gélidas de Bale. Um ponto para ele? O fato de mesmo sendo pouco expressivo ele convence mais do que todas as tentativas anteriores do cinema (e da TV também).

Anarquia, blefe de cartas, surpresas, angústias e nada de infantilidade. O Homem Morcego encontra um inimigo a sua altura e que o coloca em cheque, mostrando que de fato ninguém é 100% bom ou mau, basta saber quem conseguirá ser o herói ou ser o bandido. A questão é: no final do filme, você preferia ser o Batman ou o Coringa? Eu sei o que você irá responder, hahahahahahaha.

por J. Barish

uma pequena amostra do show do Coringa



30 de julho de 2008

Volvemos


Ontem assisti pela terceira, talvez quarta vez Volver, do famosérrimo Almodóvar.  Pouco sei sobre a parte técnica da coisa, como podem ver, mas sei bem como alguém passional e desprovido de muita sabedoria cinematográfica, apenas com um pequeno expertise, pode se sentir ao deparar com esta película.

Primeiramente devo meus parabéns a Penelope Cruz, que apesar de ter atuado em inúmeros filmes, ainda sim me parecia apenas um belo (e peculiar) rostinho. A verdade é que nunca imaginei que uma hollywoodiana daquelas pudesse se portar tão bem como uma simples dona de casa. Ela impressiona com a naturalidade da atuação e confesso que me senti extremamente acolhida, por ela ser uma mãe compreensiva, agilizada e muito também por me lembrar a minha própria mãe. Não só ela, mas a relação de todo elenco é linda. A tia, a sobrinha e a avó, me passaram um sentimento bem familiar.

A história, por sua vez, parece ser pesada pela sinopse, mas se você conhece Almodóvar vai saber que ele tem um humor peculiar. Mas, o interessamente mesmo é que a história vai te envolvendo sem que você perceba, e com as piadas do diretor, fica muito leve de ser visto. A sacada da mãe voltar e somente no final do filme ela afirmar que não está morta, foi ótima. Juro que por muitas vezes, ingenuamente eu sei, pensei na possibilidade de ela ser um mero fantasma. Culpo Almodóvar por isso, pois sei que dele podemos esperar muitas coisas. Como quando vi a cena do filme Fale com ela, em que no sonho de um rapaz, ele diminui de tamanho e entra dentro da vagina da mulher. Bizarro!

Bom, voltando ao filme, digo com certeza que todos irão gostar, não somente por ele ser simples e ao mesmo tempo carregar uma trama rica, mas por ter um final não necessariamente surpreendente. Na verdade, senti o filme como algo bem próximo da realidade, onde pequenas coisas vão sendo descobertas no decorrer da história, para então se relevar no final, assim como a vida.

Como desfeche, deixo para vocês uma cena do filme, em que Raimunda (Penelope Cruz) dubla uma canção. Uma atuação emocionante, apesar de dublada.

por A. Ayres

17 de julho de 2008

Estado Puro de Uma Nova Arte


As imagens em computação gráfica são geradas através de cálculos matemáticos. E o nível de perfeição atingido pela Pixar em transformar estes cálculos em arte é assutadoramente incrível. Em Ratatouille (2007), o trabalho artístico de construção de personagens, o estilo gráfico e a reconstrução em 3D da cidade de Paris, transformaram uma história muito bem trabalhada em um filme que "exala" poesia. "Wall-e" (2008), escrito e dirigido por Andrew Stanton (diretor de Vida de Inseto e Procurando Nemo), é uma passo a frente. Os minutos iniciais nos mostra o Planeta Terra num futuro cheio de lixo e inabitado, o que seria uma realidade assustadora, não fosse a presença de Wall-e, um robô compactador de lixo. Mas que graça tem isso? Toda. Porque praticamente tudo que passa pelas mãos da Pixar, vira ouro (Toy story, Procurando Nemo, Monstros S.A. e etc). Justo no início do filme que a Pixar "brinca" de fazer cinema, mostrando planos de tela diferentes das outras animações, como se realmente existisse uma equipe filmando aquele ambiente virtual.

Voltando ao personagem principal, Wall-e é carismático, nos remete ao mais puro cinema mudo, em seu mundo de particular, com excentricidades, o robozinho encanta nos primeiros segundos que aparece em cena. A aventura de Wall-e começa quando sua rotina é quebrada pela chegada de uma nave espacial, trazendo um passageiro que muda a vida do robô.

Tempos Modernos? Seria exagero comparar Wall-e a um filme de Carlitos? Porque não? Romance, comédia e uma crítica ao estilo americano de vida atual, estão espetacularmente inseridos em "Wall-e". As referências como do Telejogo (video-game pai do Atari...rsrs), filmes clássicos e até "2001-Uma Odisséia no Espaço", aparecem para demonstrar que a Pixar atingiu um nível que ultrapassa o cinema comercial, é uma arte para todos, pois dificilmente alguém, seja da idade que for, consiga não se render aos encantos do filme. Uma arte matematicamente planejada, dos mínimos detalhes técnicos de cenário ao roteiro maravilhosamente lapidado, "Wall-e" apresenta o estado puro de uma nova arte, o cinema que é comercial e altamente artístico ao mesmo tempo, um novo clássico.

por J. Barish

A seguir o trailer com trilha de Michael Kamen feita para "Brazil, o filme" (1985), uma homenagem, já que ele seria o autor da trilha de Os Incríveis (2004), mas faleceu antes de concluí-la.


16 de julho de 2008

Irréversible


Ok, o filme é de 2003, muitos outros já puderam ter tomado o lugar dele, mas, pra mim não! Irreversível (Irréversible, 2003) é realmente irreversível, uma vez assistido, sua percepção cinematográfica nunca mais será a mesma. Pra mim, o motivo principal é a fantástica sacada do diretor Gaspar Noé de narrar a cronologia inversamente, que não é simplesmente contada de trás pra frente, mas, tem toda uma mudança de atmosfera do final pro começo. Explico-lhes o porquê.

Apesar de mostrar uma história aparentemente simples, onde uma mulher é estuprada e seu namorado vai atrás de uma vingança, o filme tem cenas extremamamente reais, apesar de pesadas. Aliás, as cenas iniciais são tão bem feitas e fortes, assim como a do estupro que dura onze minutos, que algumas pessoas desistem de vê-lo. E isso é uma pena, pois o desenrolar da história traz cenas muito agradáveis. A descoberta da história vai se fazendo aos poucos, e conforme o filme vai chegando ao seu final-começo (?), ele vai se tornando leve e bonito.

Assim, vamos entendendo que apesar do final ser trágico, ao assistir o filme da maneira contrária, o torna muito mais interessante. A sensação horrível que sentimos ao saber o que acontece com Alex (Monica Bellucci), vai passando e tomando lugar a real história. Vamos entendendo que Marcus (Vincent Cassel) não é aquele cara nervoso, e até perigoso das primeiras cenas e sim um cara comum, que tem um relacionamento comum, com sonhos, planos, mas, que a tragédia que acontece em sua vida o transforma definitivamente. Confesso que quando o filme chegou ao fim, chorei. Não pelo que havia acontecido, mas por saber o que iria acontecer com aquelas pessoas que em um passado próximo, eram felizes.

Sobre a trilha sonora pouco sei. O filme é tão intenso que não prestei atenção, mas posso dizer que os efeitos de câmera são espetaculares, com intensa movimentação, enquadramentos cortados, que dão a perfeita impressão de ódio e luta pela vingança. Então, conforme as cenas vão passando, as filmagens vão se “acalmando”, assim como o raiva de Marcus. Além disso, os diálogos parecem verídicos e a atuação dos protagonistas é ótima. Enfim, um filme que provoca as mais diversas reações do espectador e consegue passar sensações tão intensas, só pode ser excelente.

Abaixo segue o trailer para instigar quem não viu, e pra quem viu, querer ver novamente.

por A. Ayres

O Vôo do Escafandro


Existem filmes que assistimos e simplesmente esquecemos da história nos minutos seguintes da exibição, tamanha a superficialidade de algumas películas. "O Escafandro e a Boboleta" (Le Scaphandre et le Papillon, 2008), é exatamente um caso como esse, ao inverso. Imergimos dentro da mente de Jean-Dominique Bauby (Mathieu Amalric), e quando digo que imergimos é quase de uma forma literal. No início do filme, o cuidado técnico do diretor americano Julian Schnabel, nos coloca dentro da cabeça de Jean, além da tela mostrar o que seria supostamente a visão dele (muitas vezes embaçada), o som se diferencia entre o que ele ouve (abafado e como se estivesse vindo de frente) e a sua própria voz (clara, mais alta e vindo dos lados). A minha esperança é que todas as salas de cinema consigam passar esse efeito sonoro, que é impressionante.

O filme é uma adaptação do livro que leva o mesmo nome, e mostra a vida do protagonista após tornar-se tetraplégico, podendo apenas mover e se comunicar através de seu olho esquerdo. "O Escafandro..." emociona sem ser melodrámatico, o cuidado com a trilha, que torna-se melancólica apenas quando necessário, demonstra que não é preciso exageros para mexer com o público. Nos faz refletir sobre a vida, sobre nossos limites e até sobre nossa liberdade (apesar de ter mãos e pés perfeitos, será que as vezes não ficamos presos no corpo de nossa rotina?).

"O Escafandro..." é uma aula de como fazer cinema, não por menos recebeu 4 indicações ao Oscar, além do prêmio de melhor direção em Cannes, entre outros.

por J. Barish


Veja o clip da musica "Don't Kiss Me Goodbye" da banda Ultra Orange & Emanuelle que faz parte da ótima trilha que inclue até U2!

15 de julho de 2008

Juno


A princípio me pareceu mais um filminho água com açucar, como costumam chamar. Não que não seja um filme mais simples de se ver, porém o roteiro o torna simplesmente genial. Este é um daqueles filmes em que nem vemos as horas passar, sabe?

Escrito pela ex-stripper Diablo Cody, Juno (Ellen Page) conta a história de é uma menina de 16 anos que engravida de seu melhor amigo, Paulie Bleeker (Michael Cera) e tenta encontrar um casal perfeito para adotar seu filho. Até aí, uma história comum. Mas, o que a torna especial é como a personagem recebe a novidade em sua vida. Juno é descolada, desencanada, uma menina inteligente, e diferente das usuais adolescentes representadas pelo cinema, ela não é dramática, nem existencialista. Ela é simples, engraçada e deixa o filme extremamente agradável de se ver.

O roteiro como já disse, é excelente, não por menos ganhou o Oscar deste ano. Mas, o que me chamou atenção foi a veracidade dos diálogos que dão um ar irreverente e meio intelectualizado, apesar de terem sido um pouco forçados na cena em que o pai descobre a gravidez da filha. No decorrer da história, parecemos ter certeza de como será o final, mas ele acaba sendo surpreendente, mostrando que a maturidade de Juno não está presente em atitudes clichês. Percebemos somente no final do filme que ela cresceu com tudo aquilo e que apesar da pouca idade, foi forte o suficiente para aguentar a barra sozinha, sem cobrar absolutamente nada do pai da criança. Aliás, a forma como ela escreve o bilhete que "resolve" todo o problema da adoção, revela que apesar da maturidade na atitude, ela ainda sim é uma criança que está aprendendo muito com toda a experiência. 

Os créditos iniciais também são uma agradável surpresa a parte, são super bem feitos e conseguem revelar algumas características do roteiro que se desenrola em seguida. A trilha sonora é doce e leve como o filme, e mais uma vez Cat Power está presente com “Sea of Love”. Tem também Sonic Youth com a famosa “Superstar” e até Velvet Underground. A minha favorita é da Cat Power, mas, como já postamos um clip dela anteriormente, deixo para vocês um trecho do final do filme (mas que não revela a parte principal) com a música “Everything but you” dos protagonistas, Ellen Page e Michael Cera.

por A. Ayres



Hora de Voltar



A Vida é feita de fases, infância, adolescência, maioridade, etc. Mas dentro destas fases existem outras passagens por determinados lugares e principalmente grupos de pessoas que convievemos (forçados ou não) que nos marcam por toda vida. Um dia as coisas mudam, você se forma, ou muda de emprego, ou precisa morar em outra cidade. Com o tempo nos transformamos, sem perceber, que aqueles lugares que antes faziam tanto sentido para nós, ficam distantes do que somos no presente, como uma roupa velha que pinica, ou uma poltrona velha que já não está mais confortável. "Hora de Voltar" (Garden State, 2004) escrito, dirigido e protagonizado por Zach Braff (o J.D. da série Scrubs), fala de tudo isso e mais um pouco.

"Garden State" tem uma trilha com um cheiro alternativo, assim como o filme, de baixo orçamento, mas com ótimas atuações.
Andrew Largeman (Braff), precisa voltar para sua cidade natal após anos de afastamento, reencontra antigos amigos, que mesmo morando no mesmo lugar também já não são os mesmos. Nesta volta, que se mostra uma certa busca por si próprio e confronto com suas raízes, Andrew conhece Sam (Natalie Portman), cuja personagem é um capitulo a parte nessa história, cheia de particularidades (para não dizer esquisitices), mas que encanta e dá brilho a este filme, que aparentemente é totalmente despretensioso, mas que pode dizer muito sobre nós mesmos.

O trailer para aumentar a vontade de assistir novamente.

por J. Barish

14 de julho de 2008

He Lost Control



Desde o momento em que soube que a vida do Ian Curtis, ex-vocalista do Joy Division, seria retratada no cinema, fiquei ansiosa. Então, logo nas primeiras semanas de exibição lá estava eu, sem balde de pipoca (afinal um filme como esses exige mais uma cerveja do que pipocas), pronta pra me acabar no La Hacienda (club onde a banda tocava, em Manchester, na Inglaterra).

“Control” (2007) foi inspirado no livro que a mulher de Curtis escreveu e que por consequência acabou servindo como a base da cinebiografia do cantor. Realizado por Anton Corjibin, que abandonou temporariamente a fotografia para se dedicar ao cinema (e aparentemente deu muito certo), o filme é muito bem feito, conseguindo nos transportar para aquela época e unindo um pedaço essencial da história do rock e a emocionante vida de Ian. O filme mostra o estilo de vida, os sons, as cores, os sentimentos, e até o tédio dos adolescentes que tentavam arduamente combatê-lo com muito tabaco, álcool, drogas e róque and roll. E Ian foi muito bem representado por Sam Riley, um ator inglês que já havia encarnado um outro cantor do mundo pós-punk, em “A Festa Nunca Termina” (2002). Sam conseguiu passar aquela essencia de bom moço de Curtis, que, diferente do que a grande maioria imagina, não era o típico rock star. Casou-se cedo e desde cedo também descobriu sofrer de epilepsia, por isso todos os seus conhecidos “ataques” nos palcos nada mais eram que crises da doença. Segundo o diretor Anton Corbijn, o filme contém música, mas não é um musical, porém fica difícil não se arrepiar com a ótima atuação de Sam em seu martírio devido um triângulo amoroso mal resolvido, e nas famosas dancinhas de Ian.

Sem mais, para quem curte o som dos caras, e toda aquela cena pós-punk do final dos anos 70 e começo dos anos 80, tem a obrigação de se emocionar com a vida dramática do cantor, que se torna ainda mais apaixonante pela ingenuidade e bom caráter. Com certeza, esse é um daqueles filmes que se tornaram de cabeceira.

Abaixo o link para o clip de uma das músicas da trilha sonora do filme e que foi regravada pelo Killers. (não foi possível colocar o vídeo)

Shadowplay - The Killers

por A. Ayres

The Blueberry Kiss



"Cinema é música", cada vez mais estou convencido que esta afirmação é verdadeira, principalmente quando esta relação fica mais evidente em determinados filmes. Como em "Um Beijo Roubado" (My Blueberry Nights, 2007), do diretor e roteirista Wong Kar-Wai (2046 - Os segredos do amor, 2004), que conseguiu fazer um Jazz em forma de filme, docemente melancólico, como uma música de Norah Jones. Não por menos, Norah foi a única opção para protagonista deste filme, que além de parecer um Jazz, exala Blues o tempo inteiro. Apenas pelo cast de estrelas o filme já merecia ser visto, Jude Law, David Strathairn, Rachel Weisz e Natalie Portman, não precisam de comentários, assim como a música tema, "The Greatest" da cantora Cat Power (que faz uma ponta no filme), que para quem gosta, pode esperar os mesmo sentimentos quando assistir ao filme. O filme é lento, mas não chato para o espectador mais paciente, com uma boa música ele tem seus instantes para pequenos solos como o de Natalie Portman que impressiona pela facilidade e veracidade de atuação (repare no sotaque!). O mais surpreendente de tudo é perceber como Norah Jones, que nunca havia atuado no cinema antes, começa insegura e no final do filme incorpora sua personagem. Desilusões, encontros e muitos desencontros acompanham não só a história principal, como as pequenas histórias que se desenrolam. Para muitos o "The Blueberry..." pode ser cansativo, mas para quem gosta de uma conversa calma sobre a vida, um belo pedaço de torta, ao som do bom e velho Blues, esse filme vai agradar, e muito.

por J. Barish

Confira o clip da música de Cat Power.

11 de julho de 2008

Prá começar

Foi em um dia comum, em uma caminhada pós almoço que a idéia surgiu. O motivo de começar algo nem sempre é tão claro quanto parece, mas, no nosso caso, a paixão pelo cinema e música contemporânea deu o impulso que faltava para que a idéia se tornasse vital. Digo vital, pois entre nós se faz a imensa necessidade de discorrer sobre esses assuntos diariamente. Afinal, que ser humano não se interessa por estas artes? Música e cinema.

Música é vida, ela se confunde com a própria história da cultura humana. História, aquilo que a gente conta. Conte quantas histórias foram contadas para você desde que acordou, até este momento em que estas linhas estão sendo contadas para você. Conte! Ou então melhor, cante! Cinema, arte das imagens em movimento, a arte de "contar" histórias que mescla imagem e som. Cinema é música? Sim, desde seu princípio, mesmo quando era mudo, falávasse por música. E onde chegamos? No século XX. Cinema é difundido e ganha o adjetivo de "arte". A música se molda num novo formato, primeiro em discos, depois em fitas, CD, arquivos e toda a cultura é associada a ela. Essa é a nossa herança, cinema e música dos século XX. Entenderam?

Bom, agora sem mais, apresentamos a dupla idealizadora deste espaço. Ela com o pseudônimo de A. Ayres uma quase-jornalista-formada, 20 e poucos anos e com fome de saber e ele, J. Barish, diretor de arte, aspirante a cineasta e bom amigo, daqueles que se encontra poucas vezes na vida. Não sabemos se por mero acaso, ou (pra quem acredita) por puro destino, nos conhecemos numa tal revista (a qual o nome não vem ao caso) e foi simples assim, como um caminhar pós almoço, que inauguramos este singelo, porém não menos importante, blog.

Tenham certeza de que as esperanças são as melhores e a vontade imensa, por isso, acessem sempre, pois nos veremos em breve!